A síndrome de Down e sua patogênese: considerações
sobre o determinismo genético
Rev Bras Psiquiatr 2000;22(2):96-9
96
Lília MA Moreiraa, Charbel N El-Hanib e Fábio AF Gusmãoa
“A síndrome de Down é uma condição genética, reconhecida
há mais de um século por John Langdon Down,¹ que constitui
uma das causas mais freqüentes de deficiência mental (DM),
compreendendo cerca de 18% do total de deficientes mentais
em instituições especializadas. Langdon Down apresentou cuidadosa
descrição clínica da síndrome, entretanto erroneamente
estabeleceu associações com caracteres étnicos, seguindo a
tendência da época. Chamou a condição inadequadamente de
idiotia mongolóide.” (p.96)
“Além do atraso no desenvolvimento, outros problemas de
saúde podem ocorrer no portador da síndrome de Down: cardiopatia
congênita (40%); hipotonia (100%); problemas de audição
(50 a 70%); de visão (15 a 50%); alterações na coluna
cervical (1 a 10%); distúrbios da tireóide (15%); problemas neurológicos
(5 a 10%); obesidade e envelhecimento precoce.² Em
termos de desenvolvimento, a síndrome de Down, embora seja
de natureza subletal, pode ser considerada geneticamente letal
quando se considera que 70–80% dos casos são eliminados
prematuramente.” (p.97)
“Koremberg et al5 consideram o retardo mental característica
patognomônica na síndrome de Down, concordando com Benda6
quando argumenta que essa denominação define uma forma específica
de deficiência mental associada a certas características
físicas. Registros na literatura e a experiência dos autores mostram,
entretanto, casos de portadores da trissomia 21 com desenvolvimento
intelectual limítrofe ou mesmo normal.”(p.97)
“O cromossomo 21, o menor dos autossomos humanos, contém
cerca de 255 genes, de acordo com dados recentes do Projeto
Genoma Humano. A trissomia da banda cromossômica
21q22, referente a 1/3 desse cromossomo, tem sido relacionada
às características da síndrome. O referido segmento
cromossômico apresenta, nos indivíduos afetados, as bandas
características da eucromatina correspondente a genes estruturais
e seus produtos em dose tripla” (p.97)
“Dos genes mapeados no segmento cromossômico crítico, apenas
22 foram clonados e poucos demonstram relação com a síndrome
de Down. Dentre esses, destacam-se o gene CBS
(cistationina betassintetase), relacionado à homocistinúria; o gene
CD18, associado à síndrome autossômica recessiva de baixa resistência
a infecções bacterianas; e o gene AML 1, envolvido no
subtipo M2 da leucemia mielóide aguda, associado à translocação
cromossômica 8;21.5,11 Também no cromossomo 21 encontram–
se os genes que comandam a formação de enzimas que podem
estar ligadas a alterações neurológicas, como a superóxido
dismutase (SOD–1). Esse gene está situado na região proximal
da banda 21q22 e se expressa em neurônios ou neuroglias do
sistema nervoso central, onde é controlado de acordo com o
desenvolvimento. O conhecimento desses genes tem sido facilitado
pela análise de indivíduos raros que apresentam trissomia
21 parcial, com ou sem o fenótipo característico da síndrome.
Patil et al12 observam que qualquer gene em 21q que influencie o
desenvolvimento neuronal pode atuar na etiologia do retardo
mental, uma vez que o não-balanceamento gênico pode levar a
um funcionamento sub-ótimo.” (p.97)
“Lejeune22 argumenta que a base química da deficiência mental
na síndrome de Down pode estar na disrupção de um sistema
organizado para o equilíbrio da função mental que requer: a)
Monocarbonetos para a síntese de mediadores químicos,
inativação e metilação; b) Purinas e pirimidinas para a manutenção
do DNA e RNA; e c) Tubulina e Biopterina para a
hidroxilação aromática dos mediadores dessa organização. Esse
sistema apresenta plasticidade na interação com o meio ambiente,
o que pode levar a processos de superação e adaptação” (p.98)
“Mantoan27 observa que a psicopedagogia tem avançado no
sentido de estimular na pessoa com deficiência mental o desenvolvimento
da consciência metacognitiva, isto é, o conhecimento
pela pessoa do funcionamento de seu pensamento e a utilização
desse conhecimento para controlar seus processos mentais.
Esse direcionamento abre novos caminhos para o sujeito com
deficiência mental, tendo em vista as implicações do déficit da
consciência metacognitiva na adaptação e na autonomia.”(p.98)
“Feuerstein28,29 interpreta o desenvolvimento cognitivo como
decorrente da interação da criança com o ambiente e da experiência
de aprendizagem mediada, proporcionada por pessoa próxima, que
leva a criança a processar conhecimentos significativos para o seu
crescimento intelectual. Essa interpretação se aproxima da abordagem
da inteligência de Vygotsky,30 que estabelece que o ambiente
sociocultural intermedia a aprendizagem da criança. A intervenção
psicopedagógica pelo Programa de Enriquecimento Instrumental
(PEI) de Feuerstein favorece o desenvolvimento de mudanças cognitivas
estruturais e correção de funções.” (p.98)
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